Transferência de significado entre estímulos – Conheça alguns estudos

A equivalência de estímulos, estabelecida entre signos e referentes, ocorre por intermédio de relações arbitrárias. Os signos são a base da conceituação humana, de modo que possuímos a capacidade de reagir a eles como se estivéssemos fisicamente perante o evento que representam.  
 

Dentro desta capacidade, observa-se a transferência de significado entre estímulos por parte do indivíduo sem treino explícito, símbolos aos quais são atribuídas as funções comportamentais de um referencial.  

 
Conheça alguns estudos sobre esse tema e o que os resultados dessas pesquisas têm a dizer: 
 

Um estudo conduzido por Barnes-Holmes (2000) ilustra esse fenômeno. No experimento, realizado com 36 indivíduos, sendo que por 27 deles representadas pela palavra “câncer”, a sílaba “vek” e um rótulo de refrigerante enquanto os outros eram representados pela palavra “férias”, a sílaba “zid” e um rótulo de refrigerante diferente do primeiro. O conteúdo do refrigerante de ambos os rótulos era o mesmo. Com a utilização de uma escala de avaliação, constatou-se no estudo que o refrigerante melhor avaliado pertencia à mesma classe da palavra “férias”, cuja função comportamental é positiva para grande parte das pessoas.  
 

Com a finalidade de verificar experimentalmente o fenômeno de transferência, Bortoloti e de Rose (2007) desenvolveram um instrumento baseado no diferencial semântico de Osgood e Suci (1952),  O instrumento em questão é constituído por uma escala de sete intervalos, composta por pares de adjetivos antônimos, como e “Bom” :_:_:_:_:_:_:_ “Mau”). Após a apresentação de um conceito (que pode possuir tipografias variadas, como palavras, figuras etc.), o participante deve assinalar o quão próximo de um adjetivo julga que o conceito esteja.  
 

Em mais um experimento realizado por Bortoloti e de Rose (2007) com a mesma escala, um grupo de estudantes universitários foram treinados de modo a formar classes de equivalência entre expressões faciais e figuras abstratas para então classificá-las como mais ou menos próximas dos adjetivos apresentados.  
 
Enquanto este grupo avaliou as faces com médias similares de acordo com o treino, o grupo controle avaliou as figuras predominantemente de maneira neutra. E descobriu-se então que com o treino discriminativo, há transferência de significado a partir de referenciais a estímulos desprovidos de sentido. 
 

Um estudo posterior, similar ao de Barnes-Holmes, utilizou expressões faciais (alegre e raivosa, respectivamente consideradas “positiva” e “negativa”) para a formação de classes de equivalência com figuras abstratas. As figuras associadas a face alegre passaram a eliciar funções comportamentais positivas, ao mesmo tempo que aquelas associadas a face raivosa receberam uma avaliação negativa por parte dos participantes. As avaliações variaram levemente, gerando resultados semelhantes dentro da média do grupo.  
 

Podemos perceber que, a partir dos estudos relatados acima, mensura-se como um signo anteriormente sem significado para o indivíduo adquire sentido equivalente a um referencial e passa a compartilhar, em graus diversos, função comportamental semelhante. Esta constatação demonstra que relações simbólicas devem ser compreendidas como uma questão mais aprofundada para além das relações de equivalência convencionais. 

Por Maria Paula Wunderlich 

Referência 

ROSE, Júlio C. de; BORTOLOTI, Renato. A equivalência de estímulos como modelo do significado. Acta comport., Guadalajara, v. 15, n. spe, p. 83-102, 2007.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-81452007000400006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 ago. 2021.