Função de estímulos pela RFT (Teoria das Molduras Relacionais)

Silhouette of two hands connect puzzle together

“(…) ‘Moldura’ não é um novo termo técnico, e não é uma estrutura, entidade mental ou processo cerebral. É uma metáfora que se refere a certas características de uma classe de respostas.” (Steven C. Hayes) 

Em busca de uma perspectiva analítico-comportamental para a linguagem e a cognição, a Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame Theory – RFT, em inglês) surgiu na década de 1990, a partir de estudos relacionados a equivalência de estímulos. Seu objetivo é analisar a aquisição de função de estímulos e suas vastas relações arbitrárias (equivalência, oposição, comparação, distinção, hierarquia, espacial, temporal, causalidade e relações dêiticas), estabelecidas através da linguagem.  

Uma relação entre estímulos aprendida por meio do responder relacional arbitrariamente aplicável (RRAA) pode envolver uma propriedade física (como um objeto com maior comprimento em relação a outro) ou ser arbitrária (uma moeda de cinquenta centavos é considerada “maior” que a de vinte e cinco centavos por seu valor determinado, desprezando o aspecto físico). Um estímulo só pode ser classificado, portanto, quando é apresentado conjuntamente a outros; o desenvolvimento da rede de relações se dá pela experiência com múltiplos exemplares. 

Enquanto no primeiro caso o comportamento é controlado por uma propriedade específica, abstraída após um histórico de reforçamento, a resposta no segundo caso dependerá de dicas contextuais (denominadas Crel pela RFT) (“qual é o maior (mais bem-sucedido) ator do Brasil?”, “qual é a bola de gude?”) que indicam qual relação está sendo estabelecida e sua função. Desta forma, há a aplicação arbitrária a classes distintas que controlarão o responder relacional.  

A RFT considera três propriedades que definem o RRAA, norteando seu treinamento. A primeira, implicação mútua, se refere a bidirecionalidade: “se A é igual a B, então B é igual a A”; “se A é maior que B, B é menor que A”. A segunda é implicação combinatória, também um tipo de implicação mútua: “se A é igual a B e B é igual a C, A é igual a C”. Por fim, há a propriedade de transformação de função, fundamental para a compreensão das relações simbólicas. 

A transformação de função ocorre dentro de classes de equivalência entre um determinado estímulo cuja função se estende a seus símbolos, de modo que o indivíduo os percebe de forma psicológica semelhante; para um torcedor de time de futebol, danificar uma camiseta do time é uma ofensa similar a agredir o próprio time, por exemplo. A transformação de função se dá a outros times que lhe sejam adversários, produzindo sentimentos negativos (em oposição aos sentimentos positivos produzidos pelo time que gosta) em relação ao time adversário propriamente dito quanto a seus símbolos, como a um torcedor que usa a camiseta deste time.  

O estudo das relações dêiticas, uma das relações arbitrárias definidas pela RFT, é de suma importância para intervenções aplicadas a pessoas com TEA. Uma das principais dificuldades sociais do TEA está em “colocar-se no lugar do outro”, o que chamamos de empatia. O comportamento empático depende da tomada de perspectiva, uma prévia rede de relações dêiticas. “As molduras dêiticas permitem a interação verbal com questões temporais, espaciais e interpessoais” (ALMEIDA; SILVEIRA; ARAN, 2017), com o ensino das relações “eu-você”, “aqui-aí” e “antes/depois-agora”. 

Por Maria Paula Wunderlich 

Referências 

DE ALMEIDA, João H; SILVEIRA, Carolina C; ARAN, Jaume F. Tomada de Perspectiva como Responder Relacional Derivado: experimentos com indivíduos com desenvolvimento típico e atípico. Comportamento em foco, São Paulo, v. 6, p. 102-115, 2017. Disponível em <http://abpmc.org.br/arquivos/publicacoes/15073093155e77f45773d.pdf>. acesso em 18 set. 2021. 

DE ROSE, Júlio C. & RABELO, Laura Z.. Teoria das molduras relacionais e possíveis aplicações à educação. Revista de Deficiência Intelectual, São Paulo, 3, 10-15, 2012. Disponível em <https://inctecce.com.br/images/artigo/Julio.pdf>. acesso em 18 set. 2021. 

PEREZ, William F. et al. Introdução à Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame Theory): principais conceitos, achados experimentais e possibilidades de aplicação. Perspectivas, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 33-51, 2013.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-35482013000100005&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 18 set. 2021.