Classes de estímulos

O processo de agrupamento de estímulos, denominadas classes de estímulos, fundamenta-se em propriedades semelhantes ou relações arbitrárias e possibilita a construção do conhecimento da linguagem e consequentemente, o pensamento. 

Três principais classes são objeto de estudo da análise comportamental: classes por similaridade, relações arbitrárias mediadas por resposta comum e relações arbitrárias entre estímulos (posteriormente, classes de equivalência). 

As propriedades de estímulos semelhantes podem envolver similaridade física ou atributos em comum. Mais do que a percepção do indivíduo, para que o estímulo seja integrado à classe, ele depende do reforçamento por parte da comunidade verbal, que controla tanto a generalização quanto a discriminação entre classes. A discriminação ocorre tanto no interior de uma classe, a depender de conhecimentos mais específicos transmitidos pela comunidade, quanto na classificação de classes distintas. 

No caso das relações arbitrárias mediadas por resposta comum, a equivalência é compreendida através da função dos estímulos, constituindo classes funcionais. Tomemos como exemplo uma criança que encontra um brinquedo que não se assemelha a nenhum outro que possua. Ela poderia integrá-lo à classe dos brinquedos assim que alguém lhe dissesse que é um brinquedo ou após utilizá-lo em uma brincadeira por si só, sem mediação de terceiros.  

A classe funcional não envolve, portanto, necessariamente um ensino formal. Além disso, para ser considerada classe funcional, variáveis aplicadas a um dos estímulos devem afetar outros do conjunto igualmente. Por exemplo, uma estante contém objetos diversos e, entre eles, dois brinquedos. É solicitado à criança que apanhe apenas os brinquedos; se estes forem efetivamente integrados à classe de brinquedos, a criança pegará somente os dois brinquedos sem ser confundida pelos outros objetos. 

Relações arbitrárias entre estímulos são denominadas contingências sociais, isto é, existem pelo estabelecimento de uma comunidade e geram uma resposta comum. Estas relações originam as relações de equivalência, que serão descritas a seguir. O procedimento que envolve relações arbitrárias entre estímulos, pareamento arbitrário com modelo, consiste na apresentação de um estímulo modelo, seguido por estímulos de comparação, sendo dois ou mais adequados, cuja escolha é reforçada. 

A equivalência de estímulos observa três propriedades descritas por Sidman e Tailby (1982) baseadas na matemática: simetria, transitividade e reflexividade.  

A relação simétrica ocorre quando é válida independentemente da ordem dos termos, portanto em uma relação equivalente de estímulos os modelos A e os estímulos de comparação B serão o mesmo que os modelos B e os estímulos de comparação A para o indivíduo sem que seja necessário ensiná-lo diretamente. 

Na transitividade, os elementos estão todos inter-relacionados sucessivamente, portanto há a relação entre modelos A e estímulos de comparação B, bem como entre modelos B e estímulos de comparação C. O indivíduo deverá, portanto, ser capaz de “escolher estímulos de comparação C em presença dos respectivos modelos A sem que este desempenho precise ser ensinado.” (DE ROSE, 1993). 

Uma relação de igualdade é definida pela reflexividade, estabelecida entre estímulos idênticos através da generalização feita pelo indivíduo, que conseguirá correlacioná-los de maneira autônoma quando lhe forem apresentados. 

As relações formadas independentemente, com base em um ensino direto, são denominadas relações emergentes. Para que sejam adequadamente testadas, deve-se haver a precaução de não as ensinar diretamente no período de treinamento, não as ter reforçado fora do experimento (são utilizados preferencialmente elementos como desenhos abstratos e sílabas e palavras ordenadas aleatoriamente) e apresentar somente estímulos arbitrários, ou seja, que não podem ser relacionados por similaridade. 

Por Maria Paula Wunderlich 

Referências 

DE ROSE, J. C. Classes de estímulos: implicações para uma análise comportamental da cognição. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 9 (2), 283-303, 1993. 

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análisedo comportamento. 2ª edição. Porto Alegre; Artmed, 2018. p. 134-138.  

SIDMAN, M.; TAILBY, W. (1982). Conditional discrimination vs. matching to sample: An expansion of the testing paradigm. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 37, 5-22.